fevereiro 07, 2014

Simples como um copo d'água

Ontem o Lucas esteve numa consulta pra programar a troca da gastro. Não vou me estender explicando o que é a gastro, isso é assunto pra um outro post. O assunto aqui é outro.

Fazia um calor de 35 graus, que pude constatar no termômetro do relógio na rua que registrei a caminho da clínica. Enquanto esperávamos a consulta, vi chegar uma moça que carregava no colo um menino de uns 6 ou 7 anos. No outro braço ela levava os exames, a bolsa, segurava na mão a carteirinha do convênio e documentos para entregar à recepcionista. Acordado, o menino se mexia pra lá e pra cá, e algumas vezes suas costas pendiam pra trás num movimento de extensão. Estava claro que ele tinha alguma deficiência.

Eu estava num lugar privilegiado e pude observar a cena como numa tela de cinema, ou melhor, num palco, o palco da vida. Só que nesse caso o palco era a sala de espera... lotada. A mulher com seus pertences e o filho no colo, em pé ao balcão, se desdobrando pra fazer o cadastro e abrir a ficha pra consulta. Quando enfim pôde sentar, se abanava, abanava o filho, enxugava o rosto. Estava exausta. Seu semblante era tenso, sobrancelhas franzidas, séria, não se deu ao trabalho de levantar o olhar e permitir que o seu cruzasse com o de qualquer outra pessoa que estivesse ali. Ela sabia, todos os olhares estavam nela. Olhares paralisados por pensamentos limitadores.

Eu também olhava, mas de uma forma diferente. Era como uma visão periférica. Eu via a moça com seu filho, mas o que me chamava mais a atenção eram as pessoas em volta, aqueles olhares congelados. Pra mim era fácil olhar pra moça e enxergar além, ver o que realmente aquela moça precisava naquele momento. Eu já estive na situação dela. Muitas vezes eu sou essa mulher.

Eu tenho fé nas pessoas, acredito sinceramente que todo mundo nasce com uma sementinha do altruísmo plantada em seu coração. Fiquei esperando que alguém saísse daquele estado zumbi, que lutasse contra a sua curiosidade, piedade ou seja lá o que for que o torna tão passivo diante de uma oportunidade de ser generoso, alguém que se levantasse e fizesse algo pra aliviar a tensão daquela mulher.

Não foi dessa vez, infelizmente.

Me levantei, fui em direção ao filtro, enchi um copo com água gelada e ofereci à moça que arregalou os olhos e fixou seu olhar no meu por uns 5 segundos. Pegou o copo da minha mão e disse: "Água! Nossa, era tudo o que eu estava precisando. Muito obrigada.". Um largo e sincero sorriso iluminou seu rosto, iluminou aquela sala de espera inteira, iluminou o meu coração. Nesse momento, todos os olhares se dispersaram em estilhaços, provavelmente, de vergonha.

O mundo precisa que as pessoas olhem além, que se libertem dos pensamentos que congelam sua generosidade.

A felicidade do outro pode começar num simples copo d'água.

Uma sugestão de vídeo dentro do tema:

Um comentário:

Mãe Sisa disse...

Quantas vezes a felicidade é um gesto tão simples?!...
Quantas vezes...
Quantas de nós...

Obrigado por esta partilha, Ani.

Abraço português ;)