fevereiro 28, 2014

Dentinhos apegados

Quando um dente permanente começa a se formar, a raíz do dente de leite correspondente é absorvida por ele, o dentinho de leite fica sem sustentação e cai. Assim é para a maior parte das crianças.

Em algumas crianças com paralisia cerebral, pela falta de mastigação ou pouco estímulo oral, pode acontecer de os dentes de leite não caírem. Outro fator que pode contribuir pra esses dentinhos apegados não caírem é a hiperplasia gengival que é um aumento da gengiva causado pelo uso contínuo de algumas medicações, normalmente anticonvulsivantes.

No caso do Lucas, ele tem esse aumento da gengiva e também a falta de estímulo oral (por conta da alimentação pela gastrostomia). Consequentemente, alguns dos dentes de leite teimaram em permanecer na boca do garotão!

Apesar de bonitinhos, os dentes de leite precisam ser removidos pois eles podem cair a qualquer momento (durante a noite, por exemplo) e serem engolidos ou aspirados, o que não seria nada legal. Além do que, esses dentes comprometem o nascimento dos dentes permanentes que acabam perdendo a força de erupção com o passar do tempo. O que acontece daí é que os dentes não nascem ou podem nascer no lugar errado.

Em agosto do ano passado, iniciamos a extração desses dentes de leite no Lucas. Foram arrancados, com anestesia local, cinco dentes no maxilar inferior (um canino, primeiro e segundo molares de ambos os lados). No dia da extração o Lucas teve um pouco de febre e dor, mas nada que um analgésico não desse conta. A dentista cogitou a possibilidade de entrar com um antibiótico, mas não foi preciso. No dia seguinte ele ficou bem e não precisou tomar mais nada.

Na última sexta feira, retornamos para dar continuidade às extrações, dessa vez no maxilar superior. O planejado era arrancar quatro dentes, mas como o Lucas estava com um pouco de tártaro a dentista optou por fazer uma limpeza e arrancar apenas dois dentes do lado esquerdo (canino e primeiro molar). Ela explicou que não é legal fazer limpeza estando com muitas feridas abertas que são portas para bactérias. Tanto é que depois de retirar o tártaro ela fez uma super assepsia na boca do Lucas antes de iniciar as extrações, que mais uma vez foram feitas com anestesia local.

O próximo passo é arrancar os mesmos dentes do lado direito.

Trabalho em massa pra fada do dente por aqui! :)

Imagem daqui

fevereiro 11, 2014

Tributo a um anjo de quatro patas

No final do ano passado tivemos uma grande perda, nossa cachorra Duna, uma pitbull de 6 anos, partiu. Quem tem ou já teve animal de estimação sabe o quanto nos apegamos a eles, como viram parte da família e o quanto é difícil quando eles nos deixam.

Só depois de quase 2 meses é que consigo escrever sobre o assunto, ainda que a saudade aperte meu coração e encha meus olhos d'água... E o que isso tem a ver com esse blog? Duna foi um presente muito especial dado ao Lucas, juntos os dois construíram uma linda amizade e escreveram uma história de amor e superação.

Abaixo segue uma matéria publicada em 2008 que conta como tudo começou.

Basta clicar nas imagens para visualizar melhor.



Trecho da matéria: "Em uma dessas visitas, era noite, os cachorrinhos iam mamar e um filhote, o único marronzinho, deixou de ir mamar e sentou do lado do Lucas apoiando a cabecinha em sua perna. Era a Duna." 

Em seus últimos momentos de vida, com tantos lugares para se deitar, Duna buscou aconchego numa almofada do Lucas. Chegou e partiu buscando conexão com o seu melhor amigo. ♥

Obrigada, Duna, por todos os momentos incríveis que vivemos, por todo carinho e cuidado que você teve com o Lucas e até pelas mordidinhas que você deu nele. Você foi uma cachorra incrível, muito especial mesmo, e deixou o melhor presente que a gente poderia ter, que é essa linda história. Para sempre você estará em nossos corações e memória.

Descanse em paz.

 Duna 28/03/2007 - 29/12/2013 ✝


fevereiro 07, 2014

Simples como um copo d'água

Ontem o Lucas esteve numa consulta pra programar a troca da gastro. Não vou me estender explicando o que é a gastro, isso é assunto pra um outro post. O assunto aqui é outro.

Fazia um calor de 35 graus, que pude constatar no termômetro do relógio na rua que registrei a caminho da clínica. Enquanto esperávamos a consulta, vi chegar uma moça que carregava no colo um menino de uns 6 ou 7 anos. No outro braço ela levava os exames, a bolsa, segurava na mão a carteirinha do convênio e documentos para entregar à recepcionista. Acordado, o menino se mexia pra lá e pra cá, e algumas vezes suas costas pendiam pra trás num movimento de extensão. Estava claro que ele tinha alguma deficiência.

Eu estava num lugar privilegiado e pude observar a cena como numa tela de cinema, ou melhor, num palco, o palco da vida. Só que nesse caso o palco era a sala de espera... lotada. A mulher com seus pertences e o filho no colo, em pé ao balcão, se desdobrando pra fazer o cadastro e abrir a ficha pra consulta. Quando enfim pôde sentar, se abanava, abanava o filho, enxugava o rosto. Estava exausta. Seu semblante era tenso, sobrancelhas franzidas, séria, não se deu ao trabalho de levantar o olhar e permitir que o seu cruzasse com o de qualquer outra pessoa que estivesse ali. Ela sabia, todos os olhares estavam nela. Olhares paralisados por pensamentos limitadores.

Eu também olhava, mas de uma forma diferente. Era como uma visão periférica. Eu via a moça com seu filho, mas o que me chamava mais a atenção eram as pessoas em volta, aqueles olhares congelados. Pra mim era fácil olhar pra moça e enxergar além, ver o que realmente aquela moça precisava naquele momento. Eu já estive na situação dela. Muitas vezes eu sou essa mulher.

Eu tenho fé nas pessoas, acredito sinceramente que todo mundo nasce com uma sementinha do altruísmo plantada em seu coração. Fiquei esperando que alguém saísse daquele estado zumbi, que lutasse contra a sua curiosidade, piedade ou seja lá o que for que o torna tão passivo diante de uma oportunidade de ser generoso, alguém que se levantasse e fizesse algo pra aliviar a tensão daquela mulher.

Não foi dessa vez, infelizmente.

Me levantei, fui em direção ao filtro, enchi um copo com água gelada e ofereci à moça que arregalou os olhos e fixou seu olhar no meu por uns 5 segundos. Pegou o copo da minha mão e disse: "Água! Nossa, era tudo o que eu estava precisando. Muito obrigada.". Um largo e sincero sorriso iluminou seu rosto, iluminou aquela sala de espera inteira, iluminou o meu coração. Nesse momento, todos os olhares se dispersaram em estilhaços, provavelmente, de vergonha.

O mundo precisa que as pessoas olhem além, que se libertem dos pensamentos que congelam sua generosidade.

A felicidade do outro pode começar num simples copo d'água.

Uma sugestão de vídeo dentro do tema: