janeiro 20, 2014

As piores frases que já ouvi de profissionais

O que se esperar de alguém que trabalha na área da saúde, que cuida de outras pessoas? No mínimo que sejam humanas e tratem seus pacientes com respeito e delicadeza, certo? Mas não é bem isso o que acontece por aí, infelizmente.

Eu, em minhas diversas passagens por consultórios e avaliações médicas com o Lucas, já ouvi absurdos que ficam ainda mais cabeludos se levarmos em conta que TODOS foram ditos na presença do Lucas. Será que isso era mesmo necessário?

Selecionei algumas pra contar pra vocês:

1- "O quadro dele é muito grave. Sinto muito por vocês. Por que não tentam ter outro filho? - neurologista
O Lucas tinha em torno de um ano nessa época e era a primeira vez que o Antonio (pai do Lucas) nos acompanhava a uma consulta. Me lembro como se fosse hoje do impacto que essas palavras tiveram sobre meu marido, a imagem de suas lágrimas enquanto dirigia na volta pra casa. Pelas muitas histórias que já cruzaram o meu caminho, histórias tristes de abandono em famílias com crianças especiais, é assustador pensar que essas palavras poderiam ter criado um abismo de distanciamento entre o Lucas e o seu pai. Felizmente não foi o que aconteceu. 

2- "Ele não é aceito aqui porque seu quadro é grave demais." - fisioterapeuta
Quando o Lucas recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral e foi encaminhado pra reabilitação, saí em busca de lugares onde ele pudesse ser assistido e realizasse as terapias necessárias. O primeiro lugar onde busquei auxílio foi no mais óbvio, uma associação que se entitula de assistência à criança deficiente. Mas não à todas as crianças deficientes, somente as com deficiências física e mentail com possibilidade de reabitar e desligar do atendimento. Lucas precisaria de fisioterapia por toda sua vida. Isso eu descobri com o balde de água fria durante sua avaliação. Como o Lucas tem um déficit motor, visual e intelectual, considerado múltipla deficiência, não foi aceito para reabilitação por protocolo da Instituição.

3- "Seu filho não vai andar, não vai falar... Não há o que se fazer por ele, apenas deixá-lo sobre uma cama e oferecer cuidados básicos." - fisiatra
Lucas tinha meses de vida. Como não foi aceito onde eu esperava que seria, saí em busca de outras opções. Foi durante uma avaliação no Sesi que ouvi essa frase. Gostaria de reencontrar essa médica pra contar à ela tudo o que o Lucas fez depois dessa consulta. Além das terapias que fui buscar lá (hidroterapia, fisio, fono e terapia ocupacional), meu filho frequentou escola, dançou, se apresentou no teatro, andou de cavalo, de barco, foi à praia, à cachoeira, viajou de avião, viveu experiências incríveis e incontáveis momentos de alegria. E quer saber de mais uma coisa? Ainda há muito mais o que se fazer por ele. 

4- "É bem provável que seu filho não tenha os dentes permanentes" - dentista
Os dentes incisivos de leite do Lucas tinham caído e não estavam nascendo. Preocupada, procurei um dentista "especialista" em crianças especiais, do plano de saúde. Após examinar (sem radiografar) ele concluiu a ausência dos dentes permanentes. Inconformada, procurei outra dentista especialista, dessa vez particular, que radiografou durante a consulta mesmo e... lá estavam os dentões! A doutora explicou que como o Lucas não mastiga alimentos sólidos, os dentes acabam perdendo a força de erupção e é preciso usar uma escova para estimular e ajudar o nascimento dos dentes. 

5- "Vocês sabem que ele vai morrer antes que vocês. Devem se preparar pra isso." - neurologista
Frequentamos por alguns anos o consultório dessa médica. Ela era muito competente, suas consultas eram longas, ouvia o que dizíamos com atenção e levava tudo em consideração (raridades em consultas com médicos de plano de saúde). Eu e meu marido sempre lidamos de forma muito leve e natural com a deficiência do Lucas, procurando manter o astral elevado com bom humor. Parece que tem pessoas que não entendem a nossa alegria. Acho que com essa médica acontecia algo assim... Bastava que a gente descontraísse durante a consulta, contássemos nossas peripéricias com o Lucas em nossas viagens de férias, que lá vinha ela com esse papo pesado. Ninguém está preparado pra morte de alguém querido, nem de um filho, nem dos pais, dos avós, de um amigo, do animal de estimação... O sofrimento e a dor da perda existirão sempre, sejam nas perdas que seguem a ordem natural ou não. A morte é a única certeza que temos na vida. Não interessa pra quem ela irá chegar e quando. Há de se aprender a viver com essa certeza tão incerta. Estamos todos de passagem.

Sejamos capazes de exercer o melhor de nós e, dessa forma, contribuir pela melhor passagem de todos os que cruzam nossos caminhos. Sejamos capazes de exercitar a empatia um pelo outro, por nós. Juntos somos cura!

 "Não queira adicionar dias a sua vida, mas vida aos seus dias."
Harry Benjamin, médico alemão, Jan/1885-Ago/1986✝

3 comentários:

Unknown disse...

Impressionante!
A ignorância humana ainda me surpreende e supera alguns níveis astronômicos.

É incrível como uma pessoas que, por obrigação do trabalho, devem saber lidar com pessoas, soltam algumas pérolas, assim!

Por outro lado, são essas pessoas que nos fazer olhar pra trás e ter mais vontade ainda de continuar sempre seguindo em frente!

Um abraço e um beijo!
Rafael Cires

Betty Cires disse...

O que você pode esperar de pessoas que não conseguem ir além do visível, um foco médico, frio e diagnosticado como veredicto final. Coitados!!! Há muito mais pra ser compreendido e para ser sentido. Há muito, muito mais para ser aprendido. Eles, (que pena), empacaram e não conseguem ir além. Sabemos que a realidade é outra, na prática e não na teoria. O amor supera. Parabéns por serem os melhores papais que o Lucas poderia encontrar no Universo. Ele não poderia ser mais abençoado. Beijokas

LuLu disse...

Nossa, tem situações que realmente nos tiram do sério. Lembro quando meu filho ainda estava internado no hospital semanas após seu nascimento, um dos médicos da equipe que estava cuidando do meu filho veio comigo falar que crianças assim não passam de dois anos de idade, ficam em estado vegetativo, esse comentário foi o mais trágico e infeliz, porque não está na mão de médico nenhum determinar quando a pessoa vai morrer, somente Deus sabe. Ele está com 10 anos, interage conosco, comem bem, tem boa resistência e é feliz. A vida é assim mesmo, o negócio é seguir em frente e proporcionar o maior conforto possível para nosso filho especial.

Esse gato tá grande né :D lindo ;*

Abraxos pra vcs