março 27, 2009

Parece difícil, pode não ser

"É mais fácil do que você imagina". Essa foi a resposta que dei a uma mulher que, num momento de alegria em que passeávamos no Parque do Ibirapuera, nos abordou cheia de piedade dizendo como devia ser difícil ter um filho como o Lucas.

Esse não é um caso isolado. Situações como essa aconteceram (e acontecem) com frequência e partem de todo tipo de gente, desde pessoas comuns em locais públicos, familiares, até mesmo de médicos e terapeutas. Sim! Já tivémos que lidar com a piedade de médicos. Um deles nos aconselhou a ter outro filho, como se isso fosse mudar em alguma coisa a condição do Lucas ou a nossa relação com ele. Talvez um outro filho nos traga novas vivências, mas o Lucas continuará sendo a mesma criança amada e cuidada como sempre foi.

Já sofri muito com situações assim, e ainda hoje são essas pessoas que tornam a nossa tragetória difícil. Cuidar do Lucas é fácil, o duro é ter que lidar com os olhares e comentários alheios, ter que provar ao mundo que podemos ser felizes como qualquer outra família. Pais de uma criança especial não podem ser felizes? Ter um filho especial deve ser considerado um fardo? Que mãe ou pai pode dizer que é fácil criar um filho? Por que a nossa dificuldade tem que ser considerada maior e, por isso, motivo de pena?

A minha dificuldade não é maior nem menor do que a de ninguém, e não tenho mais ou menos direito de ser feliz do que qualquer outra pessoa. Ao que me parece, algumas pessoas não sabem lidar com situações de pessoas felizes em condições fora do que elas consideram ser um "padrão normal". Para elas é mais fácil sentir pena destas pessoas do que tentar mudar algo dentro de si para enxergar as coisas de uma forma positiva.

Antes de sentir pena de alguém em qualquer ocasião, é preciso parar e observar de verdade. A dificuldade está nos olhos de quem vê e a felicidade no coração de quem sente.

11 comentários:

Betty disse...

Não é agradável lidar com o sentimento de piedade que a situação instiga em algumas pessoas. Mas isso ainda faz parte de preconceitos estabelecidos há longa data. O jeito é seguir em frente e tentar não deixar este tipo de comentário abalar. As pessoas não estão preparadas pra olhar e entender de outra forma. O foco continua sempre no "lado negativo" de tudo. beijinhos.

Luciana Pessanha disse...

Minha querida, é lamentável que isso ocorra. Fique bem. Deus está na sua vida e age na sua família, você é feliz e seu filhinho é muito amado.
As pessoas temem aquilo que não conhecem. Os caminhos de Deus são surpreendentes.
beijo e carinho

LeticiaBTK disse...

Oi Ani, tudo bem com o Luquinhas? Vivendo nossas diferenças, verdade! Quero mais uma vez te agradecer a indicação no prêmio e compartilho contigo a minha lista!

http://educacaocondutiva.blogspot.com/2009/04/grandes-atitudes.html

Um beijo com amor,
Leticia

Mãe Sisa disse...

Olá
Subscrevo completamente o que aqui escreveu. Sinto estas palavras como se tivessem sido escritas por mim.
Muitas pessoas ficam boquiabertas quando lhes respondo que a dificuldade não está em lidar com a Paralisia Cerebral do meu filho, a nossa grande dificualdade está em minimizar as sequelas da doença pulmonar crónica que ele padece. As pessoas não percebem!
Somos, antes de mais nada, uma família perfeitamente normal e feliz. O nosso filho é tão normal para nós como qualquer outro filho de qualquer outro casal... Lembro-me agora da minha tia que me respondeu (numa ocasião em que falávamos acerca de deficiências e eu ter referido a deficiência do meu João): "Ai, filha, não digas isso do menino, ele não é deficiente!"... Graças a Deus, não somos só nós, pais, que encaramos o João com extrema normalidade, mas também o resto da família. Não é facto de ele precisar de uma cadeira de rodas para se deslocar e de necessitar de um sistema alternativo de comunicação que o torna "menos" que os outros.
Espero que não se importe que eu trascreva este seu último parágrafo no nosso blog (com um link ao seu, claro!)
Obrigada e um grande Abraço

mãedopedro disse...

Olá Ani, em primeiro lugar o meu agradecimento por teres considerado o blog "a vida com pedro" interessante e o teres escolhido como um dos blogs de referência. Eu ainda não coloquei o tal selo, mas tenho andado com muito trabalho e quando referir blogs de referência, quero-o fazer com tempo. Em relação ao teu post referente àquilo que os outros pensam sobre nós ou nossos filhos e sendo mãe de três filhos, dois "normais" e um deficiente, quero dizer-te que neste momento e no que respeita àquilo que os outros pensam ou não, se forem pensamentos negativos, eu estou-me puramente nas tintas. Espero que percebas o significado daquilo que te estou a escrever. Apenas presto muita atenção quando são pessoas que eu considero importantes do ponto de vista humano, eu chamo a essas pessoas, pessoas a sério.
Mais, o pedro tem neste momento nove anos e hoje a minha luta é para que ele consiga impor a sua condição de pessoa deficiente e com a minha ajuda às outras pessoas, nomeadamente aos seus coleguinhas de escola, assim como aos seus professores e terapeutas. A conquista é um pouco difícil, mas vale a pena porque dessa conquista faz com que os nossos filhos se sintam mais seguros e cresçam com mais normalidade.
Um beijo Emília

Grilinha disse...

Grande post Ani...

É difícil para outros pais imaginar como conseguimos ser felizes....e como encaramos tantas coisas "não normais" como coisas do dia a dia...normalissimas.

Depende de quem vê. Sem dúvida !

Um beijo

Dina disse...

Olá, olá

Já escrevi vários post's sobre este assunto da felicidade e da capacidade de se ser feliz, com uma criança com necessidades especiais.

O Afonsinho ainda é muito pequenino, muito bebé e ainda não chegou a fase da piedade ou dos olhares...

Sei que essa fase irá chegar e sei que me irá doer, sei que possivelmente não irá ser fácil mas, cada etapa é uma etapa.

Por vezes dizem-me que ficam com o Afonsinho um fim de semana, uma tarde para eu descansar, para ir ao cinema...

Eu costumo agradecer e a sorrir digo que com o Afonsinho não é necessário porque ele não me dá trabalho nenhum mas, como tenho mais dois lá em casa, a menina com 10 e um menino (um adolescente, bem mais alto do que eu) de 14 anos, se quiserem podem ajudar ficando com eles...

Beijinhos e aqueles muito especiais para o lucas com sabor a algodão doce

CláudiaMG disse...

Olá

Estou a aplaudir de pé...
Por vezes as pessoas nem se apercebem o quanto magoam as outras com os comentários que fazem, pensando que com os mesmos nos estão a fazer sentir bem.
Para a maior parte das pessoas, as nossas realidades são impensáveis e dificeis de gerir e como para eles tudo é muito complicado eles nem sequer conseguem imaginar como é que nós mães, pais, familías "especiais" conseguimos ser felizes com a nossa vida.
Eu tenho muitas amigas que me dizem que nunca seriam capazes de lidar com situações como a minha, porque jamais conseguiriam ter forças para lidar e lutar.
Eu simplesmnete lhes digo que é tudo uma questão de amor.
E é mesmo disso que se trata, de amor, muito amor mesmo.

Um grande abraço para vós.

Cláudia

AMPACE disse...

Olá!!!!
Parabéns pela postagem... Penso que todas nós passamos por isso inúmeras vezes. Para mim isto é que é difícil, lidar com a ignorância das pessoas. Já agi de várias formas: tratando grosseiramente as pessoas, levantando e as deixando falando sozinhas, chorando ao chegar em casa.... Hoje, me sinto mais fortalecida.
A leitura de postagens como a sua nos faz entender que as troca de experiência é fundamental para a nossa vida.
Grande abraço...

Ivan Santos disse...

As pessoas projectam as próprias inseguranças e inadequações nos outros.

O Lucas, nesse caso, está sendo apenas alvo de mais uma pessoa com esse nível de insegurança.

Dá pena, não dá? Ser uma pessoa que não consegue enxergar 'felicidade' a meio palmo de distância e num sorriso genuíno.

A pena vem de pessoas paralisadas na ignorância... *tadinhas*.

A minha maninha, Thaisinha, com Paralisia Cerebral dá gargalhadas quando pessoas lamentam ao redor. Quase como quem, rindo, ao jeitinho dela, tenta consolar o triste semblante dessa pessoa.

Sabe o que mais, aprendi com ela.

O Lucas também há de ensinar bastante vocês a lidar com esta situação.

Ivan Santos

Ivan Santos disse...

Ivan - pronetbr@gmail.com