novembro 24, 2008

Esperar o possível


Criar expectativas é da nossa natureza mesmo. E quando o assunto é filho, as expectativas são muitas e começam desde a gravidez. Qual será o sexo do bebê? Quando nascerá? Qual será a cor dos olhos? Depois que o bebê nasce, espera-se o engatinhar, o balbuciar, o rolar, os primeiros dentinhos, as primeiras palavras, o andar,... Expectativas mil!

Quando o Lucas nasceu, minha primeira expectativa foi por um sorriso. Esperei loucamente. E como esperei!! Estava sozinha em casa, e me lembro de ter as pernas bambas ao ver um esboço tímido de um sorriso com um dos cantos dos lábios.

Devia ter tirado alguma lição dessa primeira ansiosa espera. Mal sabia eu que essa seria minha mais rápida expectativa a ser correspondia pelo Lucas.

Na mesma época que o Lucas nasceu, uma amiga também teve um filho. Nos falávamos todos os dias contando as novidades dos nossos bebês. O filho dela iniciou o desenvolvimento motor. Começou a rolar, sentar, depois engatinhar, pegava e jogava brinquedos. E o Lucas nada... Foi nessa época que ele iniciou com a fisioterapia. Eu só queria saber da terapeuta quando meu filho iria fazer tudo o que o filho da minha amiga fazia! Passava tardes repetindo exercícios ensinados por ela que repetiam os movimentos do corpo na expectativa de que em algum momento o Lucas fizesse o movimento sozinho, sem que eu precisasse ajudar, assim como com aquele sorriso.

Sempre digo que o 1º ano do Lucas foi o mais difícil e também o mais importante. Foi um período de entendimento, aceitação e aprendizado. O primeiro passo foi entender o que havia acontecido com o Lucas, tomar conhecimento de fato da sua deficiência e das conseqüências que trariam para sua vida e para a minha. Houve o processo de absorção e aceitação de tudo isso. Depois, tive que aprender a lidar com a deficiência, a cuidar dele e buscar os tratamentos que ele precisava.

Nesse primeiro ano ouvi muitas bobagens e por muitas vezes cheguei em casa chorando depois de uma consulta médica. Impressionante a indelicadeza e frieza de alguns médicos. Mas isso faz parte do processo. Hoje, até agradeço a eles pois me fortaleceram com suas "doces grossuras". Com o tempo, aprendi a lidar com os médicos, a contestar, a aceitar somente o que eu acredito e a tratar o meu filho como eu acho que ele deve ser tratado. Afinal, ninguém melhor do que eu para saber o que é melhor pra ele.

Também aprendi a lidar com minhas expectativas em relação ao Lucas. Percebi que esperava muito dele e que ele não conseguia corresponder. Não o subestimo, mas hoje minhas expectativas são reais e possíveis. Esperar o que ele ainda não pode me dar só vai frustrá-lo. Todos temos dificuldades. Uns mais, outros menos. E é fundamental respeitar as limitações do outro, viver um dia de cada vez e dar valor às pequenas conquistas.

Um comentário:

Dina disse...

Olá, Olá

Descobri o seu blogue hoje.

Tenho um menino, o Afonsinho, que também tem paralisia cerebral.

Comecei agora a ler e admirei de imediato a sua coragem ao escrever este post.

O Afonsinho, tem 25 meses. O 1º ano, foi terrivel, devastador...

Neste momento,vivemos um dia de cada vez, voltámos a sorrir e a sentirmos-nos felizes.

Os comentários de quem trabalha e acompanha o Afonsinho ainda me abalam, ainda me deixam sem dormir, ainda fico emocionalmente de rastos...

Mas, espero que o tempo me ensine a aceitar e a saber lidar com os obstáculos que, de certeza, vão continuar a aparecer no nosso caminho.

A nossa máxima de vida é que o nosso caminho, é um caminho que se faz caminhando e nós vamos caminhando, felizes...

Beijinhos e um beijinho especial para o Lucas, doce, muito doce...