Quando pensamos em comunicação, logo pensamos na fala. Porém, falar não é a única forma de se comunicar. Os surdos-mudos, por exemplo, utilizam a linguagem dos sinais para se expressar. Nesse caso, o contato visual é essencial para se estabelecer uma boa comunicação. É necessário ouvir com os olhos.
Com crianças que tem paralisia cerebral não é muito diferente. Claro que depende muito do grau do comprometimento, do mais leve ao mais grave. Há crianças com PC que possuem habilidade suficiente para serem alfabetizadas. Outras tem capacidade de falar, mas não tem coordenação para a escrita. E existem as que não tem condições nem para a fala, nem para a escrita. Então, como estabelecer uma comunicação? Como saber se está querendo se comunicar? Primeiramente é preciso saber que portadores de PC possuem um tempo de resposta diferente do nosso, mais lento.
Inicialmente, a comunicação pode vir de forma infantilizada, como um bebê, gritando, mordendo, chutando, jogando objetos. Ignorar pequenas tentativas de comunicação podem estimular estes comportamentos desagradáveis se a criança perceber que desta forma ela consegue a atenção desejada. Parar e perceber qualquer sinal é muito importante para estimular a comunicação. Um sorriso, uma reclamação, movimentos corporais, aumento da tensão, pequenos movimentos dos dedos das mãos ou dos pés, abertura da boca, jogar-se para trás, caretas, qualquer sinal deve ser calorosamente reconhecido. Estar alerta às tentativas de comunicação estimula a aprender formas de indicar desejos mais apropriadas e melhor compreendidas socialmente.
Além da expressão por meio de sons, ações corporais e gestos, existem sistemas de comunicação alternativa. Pranchas de comunicação com letras, símbolos e números; comunicadores com voz gravada ou sintetizada e programas de computador podem ser utilizados. Para isso, a ajuda de um profissional é fundamental para dizer se a criança está apta para estes recursos.
Um estimulação que me orientaram a realizar com o Lucas, e uma preparação lúdica para uma futura comunicação com prancha, é associar ações com objetos. A hora de dormir com um travesseiro, a hora de comer com o prato, a hora de escovar os dentes com a escova,... Assim ele vai criando uma imagem daquela ação e o próximo passo é transferir esta imagem para o papel, iniciando com uma foto do objeto e depois com figuras (desenhos) utilizados na prancha de comunicação.
exemplo de prancha de comunicação
Orientada também pelas profissionais que trabalham com o Lucas, aprendi a estimulá-lo a fazer escolhas visualmente, olhando em direção daquilo que ele quer. Pode ser uma sobremesa, uma roupa, um brinquedo. Tento mostrar as opções de forma clara e simples, evitando a fala excessiva para não distraí-lo, e sempre de maneira divertida e sem pressão. É preciso paciência pois a resposta não é imediata. Algumas vezes ele não está disponível naquele momento, e contorno a situação sem demonstrar frustração pois a intenção é estimulá-lo e encorajá-lo. Todos nós temos os nossos momentos que não queremos papo, não é mesmo? Cabe a mim respeitar o momento dele, sem cobranças, e num outro momento tentar novamente.
Qualquer comunicação depende fundamentalmente de um vínculo afetivo. Aprender a ouvir com os olhos, falar com expressões faciais, ver com as mãos não são tarefas fáceis para nós. Mas se torna muito mais fácil e prazeroso se for feita de forma criativa e divertida.
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